Não há futuro com desenvolvimento económico e social sem uma aposta forte na inovação, mas para isso é preciso reforçar a relação colaborativa entre as instituições de ensino superior e as empresas. “Há que aproximar cada vez mais a ciência da inovação”, afirmou Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, durante o discurso de encerramento do Altice International Innovation Award, que decorreu no claustro do Convento do Beato, em Lisboa. Para a ministra, também ela com um percurso longo e reconhecido na investigação, Portugal tem “feito um caminho nessa área” que é preciso continuar para aumentar a competitividade do país.
Habituada a trabalhar “muito perto com as empresas”, a engenheira de formação não tem dúvidas sobre a importância desta proximidade entre a academia e a economia real, mas destaca ainda a relevância de ter organizações privadas a “premiarem, promoverem e reconhecerem a meritocracia”. Foi o que aconteceu no dia 21 de novembro com a entrega de galardões a quatro startups, cujos projetos são, para a ministra, “trabalhos de excelência a nível internacional”. E isso é, de resto, uma característica da inovação made in Portugal. “Quando nos comparamos em termos científicos ou tecnológicos, comparamo-nos com o que de melhor se faz no mundo”, assegura.
Porém, um dos maiores desafios da disrupção prende-se com a transferência desse conhecimento e a sua aplicação na vida real, a chamada translação da inovação. “O conhecimento tem de dar o salto das universidades para o outro lado, temos de conseguir transformar o conhecimento em inovação”, reforça, lembrando o papel essencial dos laboratórios colaborativos para esse efeito. “Temos neste momento 53 agendas mobilizadoras [no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência], várias na área das ciências da saúde, com mais de dois mil milhões de euros. Temos neste momento um capital enorme”, acrescenta.
O conhecimento tem de dar o salto das universidades para o outro lado, temos de conseguir transformar o conhecimento em inovação.
Elvira Fortunato, Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Elvira Fortunato aproveitou ainda a oportunidade para destacar duas áreas em que, enquanto ministra, procurou investir: nas ciências da saúde e nas ciências agrárias. Sobre a saúde, lembrou o protocolo entretanto assinado entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com o Ministério da Saúde para potenciar a investigação clínica em Portugal. “Temos um pacote não só de horas protegidas para médicos que queiram fazer investigação e que queiram fazer doutoramento, mas também uma linha específica para projetos de investigação para essa área em particular”, destacou, fazendo referência a uma reivindicação antiga dos profissionais do setor. No total, são 10 milhões de euros que estão agora à disposição.
Por outro lado, as ciências agrárias “têm um potencial enorme” que deve ser aproveitado pelo país, não apenas por uma questão de competitividade, mas também por ser necessário atrair “mais candidatos” para a formação superior nesta área. A estratégia deve passar pela aposta nos avanços tecnológicos ao serviço da agricultura, quer por via da sensorização e digitalização, quer pelo financiamento da inovação através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Vivemos uns anos extremamente ricos. Nunca tivemos acesso a tanto financiamento”, lembrou Elvira Fortunato, que espera “chegar além de 2026 com mais do que temos neste momento” em termos de potencial. “Temos empresas fantásticas, temos startups que desenvolvem produtos fantásticos e penso que só podemos ficar extremamente orgulhosos”, remata.