Portugal tinha cerca de 12 mil start-ups em 2021, que empregavam mais de 25 mil pessoas, e registavam um volume de negócios superior a 1,7 mil milhões de euros. O país conta igualmente com sete Unicórnios (empresas avaliadas em mais de mil milhões de euros) com ADN português, uma das quais mantém a sua sede em terras lusas.
Incentivar a criação de projetos inovadores, capazes de atrair talento e investimento para a economia nacional é uma das apostas da Start-up Portugal, parceira dos AIIA, que acredita que este é um importante contributo para o crescimento e desenvolvimento económico do país.
Ana Teresa Maia, Marta Costa e John Gleeson, que representam, respetivamente, as start-ups expressPIK, Karion Therapeutics e Tympulse Medical, são os três finalistas desta categoria nos prémios AIIA, e esperam ser os escolhidos pelo júri para receber o prémio de €50.000, no próximo dia 21 de novembro. “Ser finalista é uma enorme motivação para os desafios futuros”, afirma Marta Costa que vê reconhecido o trabalho da Karion Therapeutics no desenvolvimento de um tratamento inovador para cancros agressivos. Já para John Gleeson, esta é “uma oportunidade fabulosa para ter acesso a um grupo mais vasto de potenciais investidores”. O responsável da Tympulse Medical explica à Sábado que sendo um dispositivo médico que incorpora um aspeto de visualização digital à tecnologia, “pode ser difícil encontrar um investimento local que compreenda o potencial mais vasto da nossa tecnologia na formação de profissionais de saúde, onde o nosso tratamento é, sem dúvida, mais necessário”.
Incentivar a criação de projetos inovadores, capazes de atrair talento e investimento para a economia nacional é uma das apostas da Start-up Portugal, parceira da Altice Labs no AIIA
Os três projetos finalistas
expressPIK – RNA-based Diagnostics for Personalised Breast Cancer Treatments
Melhorar e acelerar a escolha do melhor tratamento para cada doente é o objetivo desta solução de diagnóstico para tratamentos personalizados do Cancro da Mama. Os diagnósticos complementares baseados em RNA (CDx) otimizam a utilização de terapias orientadas, garantindo o tratamento mais adequado a cada caso, e aumentando a taxa de sucesso das terapias, ao contrário dos atuais testes CDx de ADN que selecionam para tratamento doentes que não irão beneficiar dos mesmos (falsos positivos). “Muitos doentes de cancro morrem de tratamentos falhados e a nossa missão é melhorar e acelerar a escolha do melhor tratamento para cada doente”, explica Ana Teresa Maia, CEO da expressPIK.
A pesquisa da expressPIK revelou que mais de 10% dos tumores com a mutação mais comum, encontrada no ADN de cancros da mama, não se expressa através do RNA (ácido ribonucleico que intervém em várias funções biológicas importantes), e nunca produzirá a proteína alvo de uma nova terapia. A solução é testar o RNA, tal como faz o expressPIK, o que representa uma mudança de paradigma na testagem clínica. Baseado num teste PCR (Polymerase Chain Reaction), consiste num kit de reagentes pronto a usar em qualquer clínica ou hospital.
A expressPIK já recebeu vários prémios e distinções que lhe permitiram chegar à fase de protótipo, e vai agora iniciar a etapa de certificação e de regulação.
Os projetos finalistas nesta categoria incluem soluções tecnológicas no campo da medicina
Karion Therapeutics
Desbloquear novas terapias para necessidades médicas não satisfeitas, para melhorar a sobrevivência e a qualidade de vida dos doentes é a missão desta start-up fundada por quatro mulheres, em 2022. O primeiro produto que pretende fazer chegar ao mercado assenta numa tecnologia revolucionária para a oncologia. “Estamos a desenvolver um candidato a medicamento inovador, mais eficaz, menos agressivo, e com menos efeitos secundários, para o tratamento de cancros com altas taxas de mortalidade”, explica Marta Costa. O foco desta terapia, assente numa pequena molécula – KT408 -, passa por aumentar a sobrevivência e a qualidade de vida dos pacientes, mas, a grande dificuldade, salienta a CEO, é o custo e a exigência regulamentar deste tipo de projetos.
Neste momento, a Karion Therapeutics pretende continuar a desenvolver o KT408 para conseguir entrar em ensaios clínicos em humanos, dentro de três anos. Para tal está à procura de investimento privado e também de fontes europeias para levantar cerca de €3.5M, valor que permitirá à start-up avançar para o próximo nível.
Tympulse Medical
A perda de audição devido ao rebentamento do tímpano afeta mais de 200 milhões de adultos em todo o mundo que, desta forma, sofrem de perda auditiva incapacitante que pode ser evitada. Atualmente, este problema é resolvido por intermédio de uma cirurgia, com duração superior a duas horas, que exige anestesia geral, colheita de tecido do dador, e uma grande incisão atrás da orelha. Ainda assim, 20% dos adultos e 5% das crianças não cicatrizam totalmente e o problema persiste. Com o TympanoColl, desenvolvido pela Tympulse Medical, é possível reparar tímpanos rebentados, de forma rápida, intra-auricular, minimamente invasiva e não cirúrgica.
Questionado sobre as dificuldades deste projeto, John Gleeson, não tem dúvidas: “A combinação de um bioimplante macio, bioreabsorvível e regenerativo que possa ser introduzido de forma segura e eficaz através do canal auditivo utilizando uma abordagem minimamente invasiva tem sido um grande desafio”. A pequena escala e a necessidade de fornecer um sistema de entrega que seja preciso e estável durante o procedimento é outra das dificuldades apontadas pelo CEO da Tympulse Medical que, desde já, prevê igualmente tempos desafiantes no que se refere à ‘navegação’ no sistema de aprovação regulamentar europeu, “que ainda se encontra num estado de grande incerteza e está a afetar o apetite dos investidores”.
A Tympulse Medical recebeu recentemente cerca de €100.000 de um parceiro de risco nacional que ajudará a apoiar a jornada de angariação de fundos com vista a criar as instalações de fabrico para o bioimplante.